16 janeiro 2013

Crise na Saúde faz prefeitura convocar 901 concursados



O déficit de médicos, enfermeiros, técnicos, dentistas e agentes da saúde é mesmo a principal causa da crise

“Não tem dentista! Não tem médico! Não tem remédio!”. Em três breves frases, a doméstica Marinalva Ferreira Santos, 56 anos, resumiu os problemas dos postos de saúde do Arenoso, onde mora.


Na verdade, ela sintetizou a crise em todo o sistema de saúde municipal. Tanto que, o próprio prefeito ACM Neto, em visita ao bairro na manhã de ontem, classificou como “um caos” a situação da rede.

declaração se confirma em números. De acordo com a própria Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os profissionais dos Postos de Saúde da Família (PSF), por exemplo, suprem apenas 12% das necessidades.

Diante disso, o prefeito dá um prazo de 120 dias para minimizar os desfalques. Para isso, afirma que vai convocar 901 profissionais aprovados no concurso de 2011. “Estamos fazendo um plano emergencial. Alguns inclusive estão sendo convocados e tomando posse”, declarou o prefeito.

O déficit de médicos, enfermeiros, técnicos, dentistas e agentes da saúde é mesmo a principal causa da crise. A situação de Arenoso é apenas um exemplo. No posto Professor Guilherme Rodrigo da Silva, funcionários revelam que, desde o ano passado, só há dois médicos. Já na Unidade Básica de Saúde do Arenoso, apenas um médico - dos três necessários para as equipes - continua atendendo.

As especialidades de clínica médica e ginecologia não existem ali há pelo menos um ano, não há enfermeiros e o único médico fixo é um pediatra, que trabalha na unidade há 18 anos.

De acordo com a SMS, atualmente há cerca de 10,5 mil profissionais trabalhando na pasta, 10 mil diretamente na área de saúde. Segundo a assessoria do órgão, para conhecer o déficit exato de funcionários, será preciso concluir um mapeamento que está em curso.

Salários
Além da falta de pessoal, há ainda outro problema. Quem trabalha, está com salário atrasado. Funcionários dos dois postos de Arenoso confirmaram que não receberam em dezembro.

Na verdade, nenhum posto de saúde teve sua folha paga. “Muita gente está pedindo dinheiro emprestado pra trabalhar”, revelou Patrícia Quele de Souza, assistente administrativa do posto Professor Guilherme Rodrigo da Silva.
A unidade faz 490 atendimentos por mês, em média. Com as equipes desfalcadas e a falta de salários, Patrícia conta que os funcionários decidiram se revezar.

O prefeito ACM Neto afirmou que sabe do atraso e prometeu antecipar o pagamento de janeiro. Quanto a dezembro, ele afirmou que a prefeitura está “desenhando um plano”, que poderá ser apresentado a partir de fevereiro.
A falta de medicamentos também foi alvo de reclamações dirigidas ao prefeito. “A gente solicita os medicamentos e eles vêm, mas numa porcentagem de 30% a 40% do pedido”, diz Patrícia Quele, acrescentando que a maior carência de remédios é para diabetes e hipertensão.

Estrutura
Muitas queixas se voltam para as condições de trabalho nos postos, que não passam por manutenção há quatro anos. “A falta de manutenção não vai se resolver em quatro dias ou quatro meses. Já visitei muitas unidades. Em Nova Constituinte a gente colocou um médico, porque não tinha. Verificamos a necessidade de colocar mais um posto em Periperi”, afirmou o prefeito, pedindo que a população tenha paciência.

De acordo com a assessoria de comunicação da SMS, na última semana foi aberta uma licitação que deverá contemplar a reforma de 17 unidades de saúde em Salvador, sendo 12 delas apenas no Subúrbio Ferroviário. O investimento será de R$ 1 milhão. Enquanto isso, os postos esperam pelas melhorias.

“Entreguei um relatório completo na mão do novo secretário de Saúde. O que a gente espera é uma reforma”, disse o gerente da Unidade Básica de Saúde do Arenoso, Eduardo Moura. Mesmo com um único médico trabalhando, o posto realiza 300 atendimentos por mês.

Arenoso: queixas sobre lixo, vagas em creche e falta de ônibus
Além de problemas na área de saúde, o prefeito ouviu muitas outras reclamações na visita ao bairro do Arenoso, na manhã de ontem. Desde o transporte precário, passando pelo lixo nas ruas, até a falta de recebimento do Bolsa Família. Além dos dois postos de saúde, Neto visitou a Escola Municipal de Beiru, a creche Vovô Zezinho e a rua do Sítio Novo, por onde passa um canal contaminado por esgoto doméstico.

O prefeito disse que o acúmulo de lixo é absurdo e que trabalhos precisavam ser feitos com urgência, através da Sucop e Limpurb. A população cercou a comitiva. Pediam ajuda para empregos, melhorar as linhas de ônibus e regularizar a coleta de lixo. Dentre os moradores estavam idosos, mães e estudantes, que reclamaram do excesso de lixo na frente do colégio estadual Sérgio Carneiro. “O povo só tirou o lixo porque o prefeito veio. Fica muitos dias sem vir a coleta. A moça que abre o portão da escola tem que usar máscara”, denunciou a estudante Milena Morais, 12 anos.

Outra moradora denunciou a demora na linha Pituba-Arenoso, da empresa Capital. “A gente vai entrar em contato com a empresa e tentar regularizar”, respondeu Neto. Na Escola Municipal de Beiru, parte do muro foi destruído por uma árvore e, de acordo com a diretora da unidade, Rita Abreu, há problemas na rede elétrica e na cobertura da escola, que alaga com as chuvas. “Até o dia 18 de fevereiro (início das aulas), vamos fazer esses reparos”, declarou o prefeito.

Problemas estruturais foram citados pela diretora da creche Vovô Zezinho, que atende 150 crianças. Segundo Janine Pinheiro, existe a necessidade de aumentar o número de vagas. “As matrículas só abririam hoje (ontem), mas tinha uma fila de mães desde o dia 2”, disse a diretora. Moradora do bairro, a auxiliar de serviços gerais Nanci Monteiro, 42, contou que dormiu na fila. “Fiquei de segunda até quarta revezando com minha filha, e consegui uma vaga pra o meu neto de 2 anos. O que eu não tive eu quero dar para os meus filhos”, disse ela.
Fonte: Correio da Bahia On Line

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